sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Leite de Vaca x Musculação



Há muito sabemos que uma ingestão adequada de proteínas é fundamental para o crescimento muscular, fazendo alimentos como carnes, ovos, leite e derivados, ganharem destaque no meio de praticantes de musculação e bodybuilders. No entanto, o leite de vaca, mesmo apresentando ótimos teores de proteínas de alta qualidade, possui muita polêmica em torno de seu consumo. Alguns o defendem como ótimo alimento, enquanto outros observam uma maior dificuldade no processo de definição muscular quando incluem este alimento na dieta, sendo que muitos atletas evitam seu consumo, principalmente às vésperas de uma competição. Este artigo visa elucidar essas dúvidas, demonstrando os prós e os contras do consumo deste alimento.

Define-se leite como o líquido nutritivo produzido pelas glândulas mamárias das fêmeas dos mamíferos. O leite é a principal fonte de nutrição para os recém-nascidos até que eles sejam capazes de digerir alimentos mais diversificados. No entanto, se quisermos obedecer às leis naturais, deveríamos parar de tomar leite assim que nascem os dentes. A esta altura, o leite, mesmo humano, deixa de ser um alimento completo (este padrão foi seguido durante alguns milhões de anos pelos hominídeos). É o que acontece com os demais mamíferos, que mudam sua dieta logo que nascem os dentes. Os seres humanos são os únicos animais que continuam a se alimentar de leite - obviamente de outros animais - durante toda a vida.

Especula-se que as primeiras evidências diretas do consumo de lacticínios datam de cerca de 6000 anos. Sendo assim, o leite é um alimento relativamente recente na dieta humana, o que explica porque cerca de 75% da população mundial apresenta intolerância à lactose, que se caracteriza por diversos sintomas de ordem gastrointestinal. A hidrólise da lactose ocorre por ação da lactase presente nas microvilosidades intestinais, sendo convertida em galactose e glicose.

Nesta intolerância se inclui tanto as pessoas com intolerância total, como as com intolerância parcial. Este último grupo não consegue digerir grandes quantidades de lactose de uma só vez, mas não tem problemas em administrá-la de forma fracionada, sendo que normalmente toleram bem alimentos com menores teores de lactose, tais como iogurtes e queijos.

A lactose não digerida permanece no intestino onde sofre ação de bactérias fermentativas, ocasionando a formação de ácido lático e outros ácidos, causando: náuseas, gases, cãibras, distensão e cólica abdominal, flatulência e diarréia, que se manifestam entre 30 minutos e 2 horas após a ingestão de alimentos que contenham lactose. Em alguns casos, pode ocorrer - inclusive - má absorção dos nutrientes ingeridos. A maioria dos intolerantes à lactose desenvolve o quadro com o passar do tempo e muitos deles convivem com a deficiência enzimática e só observam os sintomas após muitos anos.

Os adeptos da alimentação natural com base macrobiótica afirmam que o leite de cada mamífero é adequado para cada espécie. A estrutura do leite de vaca é própria para bezerros, mas não exatamente adequada para os homens, visto que o bezerro cresce cerca de dez vezes mais rapidamente que os humanos nos primeiros meses de vida. Além disso, os anticorpos gerados pelo organismo da vaca para a defesa imunológica do bezerro tornam-se antígenos para os seres humanos e podem desencadear distúrbios alérgicos de várias proporções. Os níveis de caseína contidos no leite de vaca também são bem diferentes dos níveis contidos no leite humano, não sendo adequados para o nosso organismo. A caseína é um dos principais componentes alérgicos presentes no leite de vaca. Ela possui a propriedade de ativar células mastóides, sendo que quando esta ativação se dá nas células mastóides presentes no intestino, ocorre a liberação de histamina (resposta alérgica).

Apesar dos lacticínios possuírem um baixo índice glicêmico, diversos estudos constataram que estes alimentos aumentam consideravelmente a liberação de insulina pelo pâncreas, o que pode causar resistência à insulina. Alguns estudos ainda associam o consumo de lacticínios com o desenvolvimento de alguns tipos de cânceres, à doença de Parkinson e à exclerose múltipla.

Mas se eu eliminar os lacticínios da minha dieta, não terei osteoporose?

O leite por ser rico em cálcio, sempre foi associado com um alimento preventivo à osteoporose. No entanto, esse mineral é apenas um dos nutrientes necessários para a prevenção dessa doença. O magnésio também é um mineral igualmente importante, mas nos lacticínios, a quantidade de cálcio é no mínimo dez vezes superior à de magnésio. Vale mencionar que na Europa e nos Estados Unidos a incidência de fraturas é bem maior do que no Japão, onde se registra um baixo consumo de lacticínios e cálcio. Apesar de vegetais conterem menor quantidade de cálcio do que os lacticínios, seu consumo é associado a uma maior densidade mineral óssea devido questões absortivas (presença adequada de magnésio, potássio e carga ácida negativa). Finalizando este assunto, durante milhões de anos o homem bebeu leite somente no período inicial de vida e apresentava uma densidade mineral óssea igual ou até mesmo superior à de atuais adultos saudáveis e ativos. Isto se devia à adequada exposição solar (síntese de vitamina D), exercício físico e ao consumo elevado de vegetais.

Agora, convenhamos que diversas preparações a base de leite são bem saborosas, fazendo com que a retirada completa deste alimento da dieta torne-se bem sacrificante. Costumo mencionar que se alguém decidir tornar sua alimentação totalmente adequada e salutar, este terá de evitar o consumo de praticamente todos alimentos que o rodeiam, pois nossa alimentação está repleta de aditivos, agrotóxicos, hormônios, conservantes, alimentos com propriedades alérgicas e demais substâncias relacionadas a efeitos adversos à nossa saúde.

Analisando-se deste modo, em se tratando de praticantes de atividade física sem ambição competitiva, defendo o uso moderado do leite de vaca (um copo ao dia) dando preferência a seus derivados, tais como queijos e iogurtes, devido à presença de menores teores de lactose.

Já no caso de bodybuilders de alto nível em período pre contest, a restrição deveria ser maior. Alguns  atletas de bodybuilding  retiram os lacticínios por completo da dieta no período pre contest. Nesta fase, qualquer detalhe fará muita diferença, sendo que o ideal é trabalhar com a menor variedade de alimentos possível, o que facilitará qualquer ajuste se necessário. No período off-season, uma moderação no consumo desses alimentos já seria suficiente.


Na verdade tudo irá depender de fatores individuais, tais como: objetivo, grau de intolerância, histórico patológico, hábitos alimentares, etc. A individualidade biológica deve sempre ser respeitada. Portanto, um acompanhamento individualizado com um profissional devidamente habilitado sempre se faz necessário.


Fonte: Nutricionista Rodolfo Peres

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