terça-feira, 6 de agosto de 2013

O exercício físico como treinamento de resistência à frustração: Aprendendo a lidar com emoções negativas.

A vida moderna é um turbilhão de obrigações. Constantemente temos de estabelecer e cumprir metas, prazos. Contas, relacionamentos, salário, projetos sobre o futuro; rotina pesada, trabalhar, estudar, cuidar das finanças, de casa, dos filhos. Muitas vezes falhamos. Muitas vezes as coisas simplesmente parecem teimar em não acontecer do jeito que queremos, ou precisamos. Nesses momentos, não importa o quão conscientes estejamos, muitos sentimentos podem aflorar: raiva, tristeza, medo. Diversos pensamentos também podem emergir: ideias de condenação ao fracasso, incompetência, falta de dom ou talento, falta de sorte, perseguição, etc. Comportamentos também ganham terreno: fuga das coisas ruins, esquiva, procrastinação, atrasos, faltas em compromissos, desistência de empregos e estudos, brigas; dormir demais, comer demais, beber demais, se drogar. Para lidar com isso temos uma quantidade enorme de informações mentalistas que nada esclarecem e conforme as crises se agravam, vamos, cada vez mais, nos sentindo esmagados e sem saída. Com isso, muitas pessoas não aprendem a identificar a relação entre as situações e seus sentimentos e, mais importante, a relação entre seus comportamentos e as consequências que se seguem.

O ser humano vem trabalhando há milênios em prol do conforto. Atualmente, dispomos de televisões 3D, carros automáticos, aviões, internet de banda larga, redes sociais e aparelho de telefonia móvel que nos deixam 24 horas conectados com o mundo. O conforto aumentou, mas a resistência à frustração diminuiu. Para que fazer comida, “perdendo” horas no fogão, ficando irritado, se posso comer numa super rede de “fast food”? Para que malhar horas numa academia, sentindo dor no corpo todo, se posso fazer uma cirurgia plástica? Para que jogar bola com meu filho se posso deixá-lo se “acabar” no videogame, enquanto tomo uma cerveja?

As pessoas estão suportando cada vez menos o sofrimento e as emoções negativas. E o pior de tudo é que a solução preferida para lidar com isso tem sido a fuga. A dor e os acontecimentos negativos são parte da vida. A dor não para de acontecer. Então tomamos mais remédios contra depressão, pânico, ansiedade, pois não podemos parar, não dá tempo para olhar para a dor e encará-la. Queremos uma solução rápida. Tenho uma informação triste para dar: procrastinar não fará o problema ir embora; desistir não fará ninguém lhe dar aquilo que você precisa construir com esforço. Nada disso vai fazer seu chefe ser mais compreensivo, nem fazer seu marido deixar de ser tão teimoso. Isso não fará sua mulher ser mais carinhosa. Nem fará seu filho finalmente estudar. E remédios vão atuar sobre os seus sintomas, nunca sobre sua vida “externa”. Agora tenho uma informação pior para lhe dar: quanto mais você foge do sofrimento abandonando as coisas importantes que faz ou precisa fazer, pior ficará.
Aprendemos a dirigir, a cozinhar, a construir edifícios, mas não aprendemos como lidar com emoções negativas, certo? Ninguém nos ensina o que fazer com aquela tristeza esmagadora, certo? Errado. Você pode treinar para uma apresentação na empresa, estudar oratória, mas não pode treinar para não deixar o sofrimento te derrubar, certo? Errado.

A atividade física é uma das coisas que serve muito bem para nos ensinar a lidar com emoções negativas. 
Vamos analisar um caso simples. Pense numa pessoa que planeja há meses fazer caminhadas no fim da tarde, mas nunca vai. Em determinado dia, ela finalmente irrompe em motivação, porém, acaba desistindo de novo. Então, ela se vê de perfil no espelho e se sente um fracasso, feia, gorda, inadequada, sem coragem. Frustrada, essa pessoa abre a geladeira, senta na frente da televisão e faz o que? Alivia, ou aumenta seu sofrimento? Aumenta. Quando fugimos das coisas negativas, privamo-nos de receber coisas positivas que advém do seu enfrentamento. Um exemplo nesse mesmo caso: a pessoa engorda mais (negativo) e deixa de emagrecer e se sentir melhor (auto-privação do positivo). Simples!
Então, como treinar nossa resistência à frustração através da atividade física? Enfrentando as coisas ruins e produzindo coisas boas em nossas vidas. Ou melhor, enfrentando as coisas ruins e se dando a chance de receber coisas boas advindas desse enfrentamento. Resolva seus problemas, não deixe que eles se acumulem sobre a mesa.

Dicas para enfrentar o negativo através do exercício: 


1) inicie uma atividade física;
2) quando quiser desistir, resista e vá;
3) quando pensar que não vai suportar a carga de treino deixe o pensamento de lado e faça;
4) não ande para trás, mantenha o foco;
5) quando achar que os resultados dos exercícios não aparecem, converse com seu professor, pergunte às pessoas na academia, persista;
6) quando estiver pensando em abandonar o treino, peça ajuda ao seu professor, as palavras dele podem lhe dar incentivo, fique firme;
7) aos poucos, aumente o ritmo, aumente o desafio. Não esperava dicas tão óbvias, não é?

E sabe o que é melhor? Você receberá o prêmio logo após o esforço: depois de uma hora de caminhada, dirá a você mesmo “hoje eu consegui!”; quando terminar a última repetição, pensará “eu suportei!”; quando olhar no espelho, dirá “olha, já emagreci sim!”; quando seu professor falar “vai lá campeão”, você sentirá que ganhou um amigo. A atividade física é uma das poucas coisas que pode te dar esse prêmio tão rápido por enfrentar sua frustração. Por exemplo, um garoto com dificuldade de arrumar namorada pode tentar, com todos os recursos, falar com uma garota e tomar um fora, pois a conquista não depende só dele. No entanto, se você se acha um fracasso por não ir caminhar, mudará de ideia uma hora depois de tomar uma atitude e ir; se você acha a academia uma chatice, mudará de ideia logo que perceber o quanto o exercício produz prazer físico e psicológico. Só depende de você, entende? Anos de academia para ficar malhado te desanima? Então estabeleça metas menores, pense no aqui-e-agora: “hoje eu vou…hoje eu fui…”. Todo dia é um novo “hoje” para você vencer e se sentir bem por ter feito aquilo que se propôs a fazer.
Uma boa parte das pessoas não consegue lidar com emoções negativas porque tudo que recebe do mundo são regras verbais: “não fique triste”, “isso vai passar”, “tem gente pior que você”, “não demonstre fraqueza”, etc. Essas frases confortam, mas não dão muitas dicas sobre como alterar situações problemáticas. O mundo emocional é enfrentado muito na base das ideias e teorias. A atividade física, ao contrário, te leva e ensina a agir. Aprendemos a nadar numa piscina, não em um sofá; aumentamos nossa resistência física treinando, não imaginando; ganhamos massa muscular com esforço, não com pensamentos.
O esporte é uma atividade de superação, é iniciar pequeno e aos poucos, progredir e vencer.

 Medo da piscina, vergonha por não ter resistência, sentimentos de fracasso por achar que não está musculoso o suficiente, isso tudo é trabalhado no treino. No exercício físico o obstáculo e a dor são partes importantes da vitória. Vencer é não parar diante dessas coisas, é seguir evoluindo. O esporte te ensina a aceitar a vida como ela é e te ensina a lutar.

Além disso, todo esse enfrentamento durante a atividade física nos ajuda a não fugir do chefe chato, da dor de um rompimento amoroso, da birra do filho, pois treinamos nossa resistência à frustração, aumentamos nossa tolerância à dor malhando o corpo e se condicionando a vencer. Ganhamos força para encontrar soluções. É possível ampliar esse aprendizado para toda a vida. Vencemos uma piscina durante uma hora e não podemos vencer uma pilha de papel? Claro que podemos! Na verdade, fazemos isso até sem perceber quando nosso hábito se torna lutar e não fugir. Emoções e pensamentos negativos, frustração e vontade de desistir são apenas parte da vida, não a totalidade do nosso Ser. Quem escuta tanto a própria dor, também pode aprender a escutar a própria alegria. Foque no positivo. Veja que pode fazer no mundo tudo aquilo que faz na academia: superar a dor, vencer obstáculos, atingir objetivos positivos e se sentir um grande campeão no fim do dia. Deixe o esporte te mostrar a força que você tem.

Por fim, não deixe de produzir coisas boas em sua vida. Muitas pessoas são especialistas nisso: sabem que precisam de um psicólogo, mas nunca vão; reconhecem que necessitam de um cineminha, porém não se permitem; querem namorar, mas nunca encaram sua timidez. Querem ser felizes, contudo, adiam a sua felicidade o tempo todo. Não é incrível isso? Nós, seres humanos, não podemos excluir a dor de nossas vidas através de paliativos. Podemos enfrentá-las e aprender com elas, mas também precisamos de coisas positivas em nossa existência. Não espere que elas aconteçam, vá buscar. De preferência, vai a pé para poder se exercitar.  Bons treinos!!!!!!!



“Então você não pode ganhar sempre, mas nunca tenha medo de tomar decisões. Você não pode ficar paralisado pelo medo do fracasso ou você nunca vai avançar. Você continua avançando porque acredita em si mesmo e em sua visão e sabe que é a coisa certa a fazer e o sucesso virá. Portanto, não tenha medo de falhar” ARNOLD SCHWARZENEGGER.

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